Filme do Dia: Il Treno Crociato (1943), Carlo Campogalliani

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Il Treno Crociato (Itália, 1943). Direção: Carlo Campogalliani. Rot. Original: Alessandro De Stefani, Gian Bistolfi, Carlo Campogalliani & Alberto Salvi, sob argumento de Antenore Frezza. Fotografia: Leonida Barboni. Música: Constantino Ferri. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Amleto Bonetti & Paolo Cimino. Com: Rossano Brazzi, María Mercader, Cesare Fantoni, Carlo Romano, Ada Dondini, Beatrice Mancini, Vittorio Duse, Renato Chiantoni, Paolo Stoppa.
Num comboio ferroviário militar, o tenente Alberto Lauri (Brazzi), acamado, relembra seu amor por Clara (Mercader), funcionária dos Correios, com quem teve um filho numa relação aberta, para o horror de sua possessiva mãe (Dondini). Seu fiel atendente (Romano), que burla todas as exigências e protocolos para ficar ao lado de Alberto, faz com que sua mãe, esposa e filho venham visitá-lo após uma transfusão de sangue bem sucedida que lhe salvou a vida.

Este talvez seja dentre o ciclo de filmes de guerra italianos produzidos sob o fascismo, o que mais apela aos recursos melodramáticos convencionais em sua piegas narrativa, ficando no extremo oposto da estética de um filme como La Nave Bianca (1941), de Rossellini. Mesmo tendo um prólogo e uma estrutura recorrentemente coral, ou seja, que demonstra interesse por diversos personagens tal como os filmes da trilogia dirigida por Rossellini na época da guerra, aqui tudo se dobra aos imperativos dos sentimentos. Toda a rigidez da hierarquia militar ou das prescrições médicas mal conseguem conter uma dose de sensibilidade e uma leitura dúbia, que murmura baixinho que se siga um procedimento contrário ao ordenado anteriormente, para a satisfação sobretudo do personagem vivido por Romano que, bufão tal como um Alberto Sordi, representa não apenas o contraponto cômico como quem auxilia na articulação dos interesses da narrativa, função também cumprida pelos mais que convencionais flashbacks descritivos que nos situam frente a relação de Alberto com Clara. Como todo melodrama que se preze – e os 5 minutos iniciais de cenas de batalha antes que surja o primeiro diálogo apontam em sentido radicalmente oposto de para onde o filme penderá – os personagens são chapados, psicologicamente pouco desenvolvidos, mas tipos que expressam quase sempre uma certa bonomia. Nesse sentido, até mesmo a arrogância da matrona da personagem da mãe do protagonista se redimirá ao final. O filme mais parece uma fantasia compensatória para o galã branco estrategicamente adoecido, já que praticamente gira em toda a mínima densidade dramática ou cômica possível ao redor de lhe servir, seja através do cuidado do superior paternalista, personagem recorrente nessa produção, representado aqui pelo Capitão-Médico Bianchi, na servilidade abestalhada de Romano ou na devoção extremada das arquetípicas figuras femininas da mãe e da “esposa”.  Assim, qualquer pretensão de um drama  ou elemento cômico de dimensão coletiva mais ampla (coral), como o soldado que abriga clandestinamente uma cadela vivido por Stoppa ou mesmo a única morte cuja tragicidade se torna de um humor involuntário, de uma irmã ferida na janela do trem são meros detalhes sem importância. Tampouco deixa de ser risível o recurso ao uso de evidentes maquetes para representar a composição do trem avançando ou sendo atacada por aeronaves. Scalera Film S.p.a/Superba Film para Scalera Film S.p.a. 85 minutos.

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